domingo, 6 de julho de 2008

Alguem para culpar

Reverendo Jonas entoava orações desesperadas em sua mente. Olhava para o teto daquele lugar medonho em busca da salvação, mas toda vez que respirava fundo, sentia o cheiro acre e úmido de podridão, vomito e lixo. Em sua frente, aquele que chamava a si mesmo de Lúcifer, sentado de forma esparramada na cadeira com as pernas abertas e com os olhos vivos fixados em seus olhos como uma naja sedutora.

- Quer um uísque Sr. Jonas? – perguntou Lúcifer interrompendo bruscamente as orações do reverendo.

Interrompido abruptamente e retirado de suas profundas orações Jonas voltou à realidade. O Anjo Caído ainda estava lá, e agora lhe oferecia uma bebida... Não deixes cair em tentação! Deve ser uma provação de Deus, só pode! Gritava sua alma.

- Eu... Não... Bebo – balbuciou ele em resposta.

- Eu já previa isso, mas vou pedir mesmo assim, garçonete, traga duas doses caprichadas!

O olhar tranqüilo do demônio encarando seus olhos deixava Jonas inquieto, se era para ter sua fé testada, desejaria que fosse rápido, pois assim poderia ir ao encontro do Criador e teria passado em seu teste.

A garçonete trouxe duas doses de uísque e saiu rebolando com sua saia curta e expressão doentia. Lúcifer penetra seus olhos nos de Jonas e vê a sua alma.

- Isto aqui não é uma provação, e nem foi Deus que quis que você estivesse aqui agora! – disse ele rispidamente.

Jonas ficou assustado, sentiu medo e apreensão, seus pensamentos viraram bombardeamentos vorazes e desconexos.

- Você está aqui porque você quer – disse Lúcifer retirando um cigarro do bolso e acendendo-o.

- É mentira! Você é o Pai da Mentira! Deus me ajude! – berrou Jonas.

- Mentira? – ele gargalhou estridentemente e deu uma tragada em seu cigarro, curtiu um pouco da aflição do pobre mortal a sua frente entre a fumaça que expelia pelo nariz e então voltou a falar mansamente – você sabe porque atravessou aquela porta esta noite?

Não houve resposta.

- Quem foi que obrigou você a sentar aqui?

O reverendo pensou em uma resposta, mas não passou de um resmungo quase inaudível.

- Admito que eu quem pedi o uísque para você, mas não te forcei a beber.

- Então porque estou aqui? – perguntou sentindo-se exausto.

Lúcifer tragou o cigarro lentamente e expeliu a fumaça e soltou um sorriso malicioso que passou despercebido pelo reverendo.

- Foi você.

- MENTIRA! – berrou ele escandalosamente, causando um rápido murmúrio no bar – porque eu iria querer entrar AQUI!?

Alguém começou a tocar habilidosamente um saxofone, uma melodia melancólica e ácida.

- Se acalme rapaz, entenda uma coisa. Nem Deus, nem eu, temos nada haver com isso aqui. Você está aqui porque quer e eu estou aqui porque você precisa de alguém para culpar.

Atordoado, Jonas sentiu-se abandonado, lagrimas rolaram pelo seu rosto e então sentiu-se sujo, pecador, assim como todos aqueles que estavam lá, um ausente de luz espiritual. Respirou fundo, olhou fundo nos olhos de Lúcifer e tomou um gole de seu uísque, o calor invadiu seu peito e então sentiu-se livre.

- Me da um cigarro?

3 comentários:

gil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gil disse...

Tae meu amigo Matheus..gostei muito do que você mostrou, expondo o dualismos espiritual/mental humano, como todos os seus erros, defeitos, como necessidades de pôr seu erro cometido, transformado em culpa, sobre algo ou alguém e de preferência o Mal!

Templo dos cães disse...

Finalmente esse desgraçado filho de uma rapariga dos infernos, desocupado e demente decidiu fazer algo de interessante na vida: CRIAR UM BLOG!acho que esse deve ser o feito do seculo desse monte de estrume cabeludo.De qualquer forma parabéns seu bosta...

Eu devo ser um pau no cú desocupado mesmo pra acessar essa merda toda!

Lasque-se!