quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Cyberpunk

Bom, cyberpunk é um genero literario muito interessante que tem como caracteristicas principais
o futurismo. Filmes como Matrix e Laranja Mecanica tem inspiracoes deste tipo, creio entao que já da para visualizar... ultimamente venho lendo algo a respeito e me deu a ideia de escrever algo parecido (isto n significa que Sujo, Podre e Imbecil irá parar).


Zero - A primeira noite. PT1


Talvez seja bizarro isto em seu tempo, mas no meu a narrativa que se segue é a realidade, não importa como isto chegou às suas mãos, o que você está lendo não é efeito de alucinógeno, mas talvez qualquer tipo de droga disponível possa lhe trazer mais conforto sobre o que tenho a contar e sobre o que seus genes futuros materializados em outros corpos e mentes estarão a encarar.

Cento anos após o lançamento das primeiras nanam tecnologias neuronais, eu nasci – ano de dois mil e setenta e dois. O que pra voce pode ainda nem ter chegado, para mim é algo comum, às vezes ignorado, às vezes na moda ou ainda outras tantas vezes... Mortal. Em um mundo capitalista espacializado, onde o homem é passível de programação cibernética, identificação via microondas lançadas por satélite monitores espaciais esteja na China ou na Escandinávia, estar biologicamente puro pode ser estranho, ou até mesmo vitima de preconceitos de diversos tipos.

A era em que os vícios mais psicodélicos e doentios são tão sociais quando pão, o mundo lá fora se torna tão frio quanto o concreto e volúvel como um esquizofrênico. O bizarro deixa de ser bizarro, a palavra perde o valor diante da realidade ou se torna sinônimo da própria e diante do terror, e da morte cada um de nós mata para alcançar mais longe e disso eu tenho experiência, com cento e vinte e três anos que completei no dia de ontem. Como consegui isso? Sinceramente, não me invejem... Eu não teria inveja, nem arrependimento – mas tudo tem o seu preço e o momento do pagamento nunca é bom e por outro lado, existem outros matusaléns por ai à solta.

Bom, vamos ao que interessa. Sou um elemento raro diante da sociedade pós-moderna, ou ultra-moderna se preferir. Nasci em um leito de hospital fruto da relação sexual de meus pais, lhe parece comum? Durante toda a minha vida me foi estranho, eu sempre tive alguns dos defeitos genéticos de meus pais misturados às qualidades, sendo que poderia muito bem ter sido fruto de uma inseminação artificial e ter tido meus dados cuidadosamente selecionados. Um eterno ressentimento, não ter tido esse privilegio tão comum apenas por conta de um capricho purista da parte deles.

No entanto, dentro do possível eu me tornei um moleque resignado e pronto para desafios, mesmo quando eu sabia que tinha limites físicos mais evidentes que os demais, pude me destacar em produção de conhecimento durante toda minha vida escolar. Mas meus pais, principalmente minha mãe, psicóloga e profunda conhecedora das emoções e da existência contemporânea, sabiam de minhas angustias. Como tentativa de reparar o estrago feito, aos doze anos, recebi meu primeiro implante, uma Carta-Célula, não é uma das mais caras, e não é uma das mais comuns, servia para aumentar as possibilidades corporais e ao mesmo estimulando inibidores de fadiga em sua programação adaptada ao usuário.

Ainda existia um ressentimento em mim, porém abrandou-se a ponto de sentir identificação com meus pais e passar a ler um pouco dos livros de ambos. Meu pai que era um catedrático da Universidade Federal passou a me incentivar e durante minha adolescência adquiri um conhecimento acima da média. E então, eu tive algo que era diferente da maioria das pessoas que me dava certo orgulho, pois em um tempo em que as massas não sabem ler ou escrever, ou sabem isso de forma falha, eu estava me encaminhando para uma universidade, onde apenas um punhado de pessoas estavam.

Mas o sonho não durou muito tempo, a identificação genética era praxe, e devido à raridade de um caso como o meu, virei alvo de fuxico graça e escárnio. Bulling em outras palavras. Resisti dois semestres de humilhações até mesmo por parte dos funcionários de baixo escalão. Uma ferida se abriu em mim, o ressentimento quase esquecido voltara e uma profunda crise depressiva se apoderou de mim. Passei semanas sem me alimentar, sustentado a base de drogas injetáveis e escondido no mundo paralelo do meu quarto até o dia em que o fundo do poço chegou.

Como se estivesse me afogando, eu corri como se estivesse nadando para fora de casa no meio da madrugada, alcancei a rua e quase fui atropelado por um carro flutuante que graças ao sensor de impacto pode se desviar de mim. Mas em mim não havia alivio, apenas o sofrimento que havia se apoderado, suando e bufando, em meio a pessoas que voltavam para casa sem me enxergar, eu corria, me esbarrava e a pedra em meu peito pesava cada vez mais, e quando cheguei ao alto de um viaduto, senti a bomba que eu era, programado para explodir. Porém, diferente do que o sistema achava. A bomba falhou.

Do alto do viaduto pude ver pequenos carros passando na rua lá embaixo, o medo de morrer havia arrancado de mim momentaneamente a pedra em meu peito. Minha respiração pesava e meu corpo pulsava turbilhões de adrenalina que mantinha meu sangue circulando como pessoas em horário de pico nas ruas movimentadas da cidade.

- Hei moleque! – ouvi uma voz dizer atrás de minha nuca, meu coração gelou quando senti algo frio encostar em minha blusa de náilon – cê ta ferrado! Passa tudo pra cá!

- Não tenho nada!

- Então vou te espetar!

Fechei meus olhos, estava tudo acabado, pensei o sistema realmente queria acabar comigo naquela noite, o antivírus tinha de fazer efeito e expulsar um dos defeituosos dele. Esperei a estocada em minhas costas com as mãos sobre a cabeça e o corpo retorcido, tremulo. A estocada nunca veio. Um som de feixe atravessou o barulho dos carros da madrugada e um cheiro asqueroso de queimado subiu ao ar.

Assustado, me virei para saber o que havia acontecido e vi o cara morto no chão com um grande furo queimado em suas costas expondo parte de seus órgãos internos fumegantes. Vomitei sobre o corpo e completei a obra de arte pitoresca.

Limpei minha boca com a manga da blusa, e vendo novamente aquele corpo trespassado, queimado e vomitado, quase me fez desmaiar. Apesar de ver desgraças como estas na televisão diariamente, a coisa se torna bem pior quando se está vivenciando. Segurei a vontade de vomitar novamente com muito esforço.

Procurei saber de onde havia vindo o tiro, mas não encontrei ninguém e tudo parecia ignorar aquela cena, um homem morto e um garoto desesperado. Tive vontade de gritar, saber o que estava havendo, mas as respostas às minhas indagações internas era apenas o sopro do vento frio que trazia o cheiro acre e úmido das ruas.

Até que então, vindo na contramão da rua, uma moto do estilo modelo ultrapassado com rodas e sem GPS que fora proibido há trinta anos vinha rasgando a estrada fazendo barulho, quando alcançou a minha proximidade o motociclista iniciou uma manobra de freio em meia lua que acabou quase me atropelando e estacionando sobre o corpo estendido. Uma injeção de adrenalina me tomou e eu me joguei ao chão.

O cara que desceu da moto usava uma jaqueta de couro sintético, calça jeans corporal adaptável e um tênis branco surrado, o seu rosto era curtido e de aspecto mal humorado, mas não era velho, em seu cinto havia um coldre e uma pistola laser modelo 212 – permitido apenas para a polícia.

- Matei esse desgraçado! – ele tirou um tablete de alguma coisa do bolso e tomou e em seguida ascendeu um cigarro – Punk idiota.

Sem ao menos parecer se dar conta de minha presença, ou aqueles que passavam se dar conta de nós, ele puxou uma lamina cirúrgica e começou a abrir o crânio do morto de forma grotesca ali em pleno viaduto, no meio da cidade em uma noite qualquer e ninguém, ninguém nem se quer um dia soube disso, a não ser eu e o motoqueiro. Vomitei novamente, mas agora em minha mão e abafando o quanto foi possível os meus gemidos.

Praticamente de costas para mim o cara continuava lá, a fazer a sua cirurgia bizarra e então o vi sentir-se satisfeito por finalmente perfurar o crânio e encontrar na massa cerebral um pequeno chip que seria imperceptível se não piscasse uma pequena luz vermelha.

- Garoto – o disse sem virar para mim e em tom de sutil ameaça - você não viu nada está noite, se tiver visto, será tostado que nem esse filho de uma puta entendeu?

- En... – eu tentava pronunciar algo, mas o medo me sufocava.

- Acho que você entendeu.

Ele montou em sua moto, ligou o motor e em alta velocidade ele sumiu de lá, deixando-me vivo e junto ao corpo bizarramente assassinado e operado. Mas antes que me desce conta, como se fosse um zumbi, me afastava daquela cena num andar doentio e cambaleante, impressionado com o acontecido e feliz por estar vivo o suficiente sentir náusea e repulsa.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vinho, noite, só falta sexo..

O sujo podre e imbecil, Marcos, continua em cena em mais alguns paragrafos meus.


Sujo, Podre e Imbecil - Sexo, vinho e... Grama. PT1


Já fazia dois meses que eu estava grudado na casa de Amélia, escondido dentro do quarto assistindo TV durante o dia inteiro coçando o saco. Ela havia dado um pé na bunda do namorado e isso tinha lhe rendido um olho roxo que lhe marcou por algumas semanas, quis ir dar um soco no cara, mas ela chorou pedindo para que não fosse – o pai dele era policial federal.

Falando em pais, Amélia morava só, mas o pai e o avo a visitavam vez ou outra. Ela havia contado sobre o fim do relacionamento que houve repentinamente, o avo ficara satisfeito, o pai nem tanto, pois o cara tinha dinheiro, porém pelo menos a integridade física de sua filha não corria mais risco. Sobre mim, ela apenas comentou com o avo, que ela dizia ser um cara legal, enquanto o pai acharia que eu era um pé rapado – o que não estaria errado. Mas por algum tempo eu fiquei escondido no quarto quando eles estavam lá, até que um dia o avo fez questão de me conhecer e ela nunca negou nada ao velho.

Numa tarde em que o velho havia marcado de aparecer sem o seu filho – pai de Amélia. Sentamos-nos em cadeiras no jardim, eu estava de sandálias e calção de banho, minha barba estava mal feita e meu cabelos totalmente embaraçados. Nada que tivesse incomodado o velho. Ele tinha uma enorme careca na cabeça e tudo o que lhe faltava em cima, ele tinha embaixo, o seu queixo era repleto de pelo, creio que sua barba alcançava a barriga, seu conjunto exótico ainda exibia um óculos de sol estilo aviador antigo e uma bata indiana.

O velho era um americano hippie que fugiu de seu país para que o seu pai conservador maluco quisesse que ele fosse para a guerra do Vietnã ser um herói. Conseguiu arrumar uma grana e fugiu para o Brasil, nunca mais viu a família, se casou com uma brasileira e fez a vida ensinando ioga num centro indiano e fazendo acupuntura. Contei a ele sobre mim.

- Você parece ser uma cara legal! – disse ele, com um sotaque ainda perceptível – lembrar muito com eu mesmo. Não gostava de moleque imbecil, lembra minha filho, um completa idiota.

Eu ri. Amélia não gostava como o avo tratava o seu pai, mas no fundo ela sabia que ele tinha razão, por isso nunca repreendia o velho sobre isso. Acabei achando ele um cara legal. Inclusive mostrou enorme interesse pela minha formação como psicólogo e disse que conhecia uma instituição que talvez me contratasse. Apesar de trabalho não ser especificamente o que eu queria, não era algo que poderia negar.

O velho tinha ido embora, e eu e Amélia continuávamos sentados no mesmo lugar, abrimos um vinho chileno e tomamos enquanto a noite caía. Ascendi um cigarro e fumamos juntos por algum tempo curtindo as formas variadas que a fumaça fazia dançando no escuro.

- Não queria que você tivesse que trabalhar – ela disse.

- Mas não tem como recusar, eu acho que o velho simpatizou comigo e ta fazendo isso também por você.

- Mas você é meu escravo – disse enquanto entrelaçava a minha mão nas suas – sou eu que te dou comida e roupa lavada, seu trabalho é me servir também.

Rimos juntos por longos instantes, ascendemos outro cigarro e desviamos nossos olhares para o céu sem estrelas e sem lua, como era estranha a sensação diante da imensidão, como me senti pequeno e só. Tomei um gole de vinho. Mais alguns instantes em devaneio se passaram, até que ela me trouxesse de volta ao plano concreto.

- Você bem que poderia ser do meu tamanho, né?

- Eu? Imagina só, eu acho que me vestiria de verde e ganharia a vida como duende de jardim!

- Seu porra! Ta me zoando é? Só porque sou pequena... Mas é porque não te alcanço!

- Claro que alcança.

- Alcanço nada.

- Fique de pé ai.

Nos levantamos das cadeiras e ela mal alcançava o meu peito – pois enquanto ela era pequena, eu era bastante alto, quase um metro e noventa. Ficamos um de frente para o outro, ela me olhava no rosto erguendo sua cabeça toda para cima. Quem nos olha de longe provavelmente acharia que sou um pedófilo maluco.

- Viu só! Não alcanço!

- Mentira, alcança sim. Olha só, não precisa nem se abaixar, ta na altura certíssima.

- Você ta de sacanagem com minha cara?

- De uma forma um pouco diferente do que a que você quis dizer.

- Como assim?

Peguei a cabeça dela e empurrei levemente em direção ao meu calção... Naquela noite transamos no jardim e acordamos de ressaca e com coceira por causa do capim.

Amélia ainda dormia, estava nua ali esparramada no chão. Fui pra cozinha fazer um rango e café, pra mim e pra ela, coloquei tudo numa bandeja e levei para o jardim. Depois de algum tempo juntos, descobri que a única coisa que ela não sabia fazer era comida, descobri isso da pior forma - depois de quase morrer intoxicado com as gororobas intragáveis que tive de comer, eu assumi a panela e o fogão.

- Acorda – sacudi ela com a mão livre.

Ela resmungou e abriu os olhos cansados. Sentiu o cheiro de café da manha e dos ovos fritos e ficou com a cara pálida e vomitou no chão.

- Coma algo logo, ou então vai se atrasar pra universidade – eu disse, enquanto ia comendo a minha parte.

- Não quero comer nada!

- Depois não diga que não avisei.

- Vou tomar banho, só deixa um café pra mim.

- Como quiser.

Ela sumiu dali. Fui terminar meu café na cozinha, deixei o dela sobre a mesa. De repente o telefone da sala tocou - ainda sujo de grama e nu eu fui atender, a cena era ridícula e eu continuava me coçando.

- Alo?

- Marcos? – respondeu a voz do avo de Amélia do outro lado da linha – como está meu rapaz?

- Bem, e o senhor? – meu saco coçava um absurdo e minhas unhas arranhavam ali freneticamente.

- Arrumei uma boa trabalho para você minha rapaz!

- Ótimo – deveria arrumar um curso de português também, pensei nada empolgado com a perspectiva de trabalhar – que trabalho meu velho?

- Numa instituição que contribuo filha. Vou te buscar em trinta minutas!

- Beleza.

- Até lá.

Ele desligou o telefone. Amélia saiu do chuveiro enrolada na toalha, pegou o café sobre a mesa e tomou em um gole só.

- Ta morno esse café.

- Você esperava o que?

- Porque ta vermelho ai embaixo?

- Como acha que mantive seu café aquecido?

- Tomara que esteja quente ainda mais tarde viu meu escravinho? – ela riu, eu não achei graça – quem ligou?

- Seu avo.

- É? O que disse?

- Tem um emprego pra mim.

- Sua cara não ta muito boa.

- Impressão sua. Ele chega aqui em meia hora.

- Então se apresse, eu tou indo rei, não se canse, que vou te utilizar hoje a noite, viu meu mucamo?

- Ok sinhá!

Ela saiu pela porta, pegou o carro na garagem e se mandou pela estrada, fui tomar um banho e pegar uma camisa bacana que Amélia tinha me dado para sairmos a noite, coloquei uma calça jeans e um sapato social surrado que apertava meus dedos a anos. Uma hora e meia depois o velho hippie pintou por lá.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Inédito

Dois post em dias seguidos!! É um milagre, ou é apenas efeito do vinho adega que estou bebendo
e esse clima de chuva lá fora.
Postarei a segunda parte do texto.


Sujo, podre e imbecil - Ri por ultimo quem se ferrou primeiro. PT2


Quando acordei eu tava numa maca de hospital com a cabeça e meu tronco mumificados com gaze. Uma enfermeira gorda estava me vigiando.

- É o inferno? – perguntei ainda meio grogue.

Revoltada a enfermeira não respondeu, mas eu estava certo de que era algo no mínimo parecido. Eu estava num corredor junto com um monte de outros sujeitos com feridas de todos os tipos, ossos quebrados, ferimentos à bala e membros decepados.Vomitei no chão.

- Mas que merda - disse a enfermeira gorda, com um pano já preparado para estas eventualidades.

- Como cheguei aqui? – perguntei em meio à náusea que aquele lugar e as dores me causavam.

- Aquela menina ali lhe trouxe – a enfermeira apontou pra uma mulher pequena que dormia encostada num banco de madeira. Era a mesma do bar.

Cai no sono por alguns instantes, mas acordei pouco tempo depois com alguém gritando. Dei de cara com a mulher que me levou pra lá. Não tinha notado antes, mas seus cabelos eram cortados na altura dos ombros e suas bochechas lembravam as de uma criança.

- Acordou agora? – perguntei.

- Há algum tempo.

- O médico lhe deu alta, você mora aonde?

- Sei lá.

- Como assim, sei lá? Não tem casa?

- Não tenho grana.

- Pais?

- Não.

Preocupada e sem saber o que fazer a enfermeira pareceu lhe sugerir algo que não ouvi, ela não parecia gostar muito da idéia, mas estava cansada e com sono por isso achou que era a melhor opção a ser tomada no momento, já que o hospital também estava lotado e não fazia mais sentido eu continuar ocupando mais uma de suas macas.

Ela ia me levar para casa dela, foi o que descobri mais tarde quando dois enfermeiros brutamontes me ajudavam a andar pelo estacionamento.

- Não tente nenhuma gracinha – ela disse – ou chamarei a policia.

- Relaxe – respondi – seu namorado cuidou disso.

Minha resposta não pareceu deixá-la muito confortável, o que era visível. Talvez ela tenha achado a estupidez do almofadinha desnecessária. Mas isso não mudava o fato de eu estar todo quebrado e mal conseguir andar e nem tinha conseguido ficar bêbado!

Me colocaram no carro dela, no banco do carona. O carro era um desses populares com um pouco mais de sofisticação, como banco de couro e uma caixa de som potente. Ela entrou no carro e sem falar nada enfiou a chave na ignição.

Um relógio eletrônico no meio daqueles que também medem temperatura também estava apontando o horário de meia noite e quarenta e três minutos. A mulher tinha uma expressão séria no rosto. Desviei minha atenção para uma case de CDs perto do vidro da frente, sem pedir, peguei e abri, por algum tempo fiquei vendo o que tinha ali. A maioria do que tinha era muito ruim, bandas horrorosas que fazia sucesso ano após ano no carnaval, até que achei Creedence!

- Você costuma sempre ser assim? – perguntou ela, quebrando o silencio.

- Assim como?

- Pegar coisas ou sentar em mesas ocupadas sem pedir? Isso pode acabar muito mal pra você um dia.

Tirei o Creedence do case e enfiei no radio. A primeira musica era Fortunate Son, a musica que regeu a trilha sonora do filme Duro de Matar 4, no qual Bruce Willis esteve mais durão do que nunca, encarnei o espírito da coisa enquanto curtia o som, talvez estar ferrado não fosse tão mal assim.

- Bacana esse CD – eu disse.

- Essa coisa velha deve ser do meu pai – ela respondeu mal humorada.

- Bicho, eu tomei um chute na costela de seu namorado, fui demitido e não tou com essa carranca na cara, relaxe.

O semblante dela ficou menos carregado. Mas continuava sem falar muito, depois de algum tempo em silencio e repetir diversas vezes a mesma musica, cortei o silencio.

- Não foi tão ruim assim.

- O que?

- Bom, apanhar do seu namorado – ela olhou pra minha cara, sem entender nada – antes disso você não me deu atenção e queria que eu fosse embora, agora quem está no seu carro sou eu e não seu namorado. Daria um bom filme.

Ela riu e quase enfiou o carro num poste! Tive um sobressalto e segurei o volante, o que salvou nossas vidas. Depois de alguns momentos em silencio, admirando nossas vidas sãs e salvas, decidimos que íamos parar num posto para nos recuperarmos do susto. Sentamos em cadeiras de plástico da loja de conveniência vinte e quatro horas e dividimos uma cerveja, duas, três tudo curtindo o CD que continuava rolando no carro. A rua estava deserta e a balconista do lugar cochilava em sua cadeira.

- Qual o seu nome rei? – perguntou ela – não acredito que ainda não tinha lhe perguntado.

- Não precisou minha identidade no hospital?

- Era publico, sabe como funciona, né?

- É, fui cobaia disso. Me chamo Marcos.

- Eu sou Amélia.

O papo começou a fluir, e começamos aquela coisa de contar quem somos, ela era estudante universitária de filosofia na UFBA, tinha vinte e dois anos e trabalhava na loja de tecidos do pai.

- Verdade que você foi demitido hoje é?

- Na verdade me demiti.

- Oxe!? Porque?

- Tava afim, ser mecânico é uma merda.

- Você é doido? Como vai viver? Seu pai te dá dinheiro?

- Meus pais me libertaram para o mundo depois que comecei a estudar psicologia e me formei. Queriam que eu fosse médico.

- Isso não é coisa que se faça com um filho!

- Tou melhor agora do que antes.

- Você é um cara estranho rei.

- Pois é.

- Você num é daqueles doidos não né?

- Que doidos?

- Hippies.

Eu gargalhei alto e senti uma dor profunda nas costelas que me fez encurvar quase todo. Amélia veio tentar me socorrer com um remédio contra dores, mas recusei, dizendo que sou alérgico a estes tipos de remédios, mas na verdade queria apenas continuar bebendo.

- Porque acha que sou hippie?

- Cabelo grande, barbudo, sujo e gosta de rock.

- Ah.

Pedimos outra cerveja, bebemos praticamente em silencio.

- Temos que ir, ta tarde – ela disse então.

- De boa. Eu pago.

- Como você diz. Relaxe, eu pago, você ta sem grana e apanhou do meu namorado, te devo essa.

Saímos de lá, passamos por outro relógio eletrônico e já apontava quase duas da manha. Estávamos meio grogue, a cerveja misturada ao cansaço batia uma onda em nós visível, o carro tinha voltado à região da orla e dava para ver as barracas da praia.

- Eu morava por aqui quando criança – eu disse.

- É?

- Para o carro naquele estacionamento.

Ela estacionou, ficamos parados olhando o mar, ficamos em silencio de novo por mais alguns instantes.

- É estranho.

- O que?

- Mal te conheço, mas tou a fim de te dar?

- Massa.

Passamos o resto da noite trepando no carro. E como eu havia dito antes: não foi tão ruim assim.

domingo, 10 de agosto de 2008

Olá, tudo bem? =P

Esta é uma narrativa que será dividida em algumas partes, que nao tem previsao de fim e se chamara Sujo, Podre e Imbecil, o mesmo nome do meu blog.


Sujo, podre e imbecil - Ri por ultimo, quem se ferrou primeiro. PT:1

Lá Estava eu, olhando pela fresta de luz vermelha que atravessava a janela enquanto eu cochilava sentado numa cadeira velha de plástico sentindo o cheiro vicioso de óleo e gasolina. Era final de tarde e como de hábito o movimento durante todo o dia fora fraquíssimo e rendeu apenas algumas migalhas que garantem a bebedeira do fim de semana para meu chefe.

Um leve barulho metálico me despertou. Suado e cheio de graxa me espreguicei na cadeira e me desequilibrei tomando uma queda, que patético - pensei. Cocei o saco e preguicosamente espreitei sem sair do lugar, não havia nada além de carros semi-desmontados ou suspendidos, peças espalhadas pelo chão, pneus empilhados, caixas de ferramentas – ou seja – a mesma coisa de sempre.

- Ratos – resmunguei.

O relógio no alto da parede aponta cinco e meia da tarde, faltava meia hora para fechar o expediente e cair fora. Fui para a parte da frente da oficina, onde o patrão com sua barriga enorme de cerveja estava flertando com uma horripilante mulher desdentada, roupa suja e vulgar e um penteado horroroso.

- Cara, tou caindo fora – eu disse passando pelo balcão.

Interrompido em sua conversa entusiasmada de forma abrupta, o meu chefe transformou toda sua empolgação numa carranca enfezada. O que era mais típico de seu feitio.

- Que porra cê acha que ta fazendo véi? – perguntou – seu horário é as seis, negão!

- Essa merda ta vazia bicho, vou ir tomar uma – respondi, já na porta.

- Se sair por essa porra, cê ta demitido, vú caralho?

O salário tinha saído no dia anterior, ponderei, não era grande merda mesmo e as coisas continuariam difíceis com ou sem a grana e eu detesto trabalhar com automóveis. São um saco, não há nada o que entender sobre eles, são maquinas frias no qual só da tesão em usa-las como estofado para uma boa transa. A sarjeta poderia dar mais emoção à minha vida medíocre - decretei.

- Faz como quiser cara – puxei um cigarro do bolso, acendi e cai fora daquela espelunca.

Peguei um ônibus a uns duzentos metros de lá, mas ainda dava para ouvir os berros furiosos do meu ex-chefe. Eu não tinha destino, alias, eu tinha, mas não tinha escolhido o bar ainda. Peguei um ônibus que seguia pela orla marítima da cidade. Avistei o lugar mais boêmio da cidade e senti o seu cheiro ao adentrar aquela área, decidi então que deveria descer ali do ônibus.

Eu não tinha muita grana e o lugar era significativamente caro às minhas finanças. Mas que se dane! Eu estava a fim de beber, pois a bebedeira sempre será a melhor amiga do homem. Porém eu havia me esquecido que se tratava de uma sexta feira, e o local já estava lotado. Os garçons se equilibravam com seus sapatos sobre o chão de paralelepípedos entre um amontoado de cadeiras e mesas de plástico, exibindo seus talentos com a bandeja.

Procurei esperançosamente por uma mesa vazia naquele lugar a céu aberto, mas tudo já havia sido tomado. Minha língua secava na ânsia de uma cerveja gelada enquanto procurava. Enfim decidi que deveria me juntar a alguma mesa já ocupada mas com uma cadeira vaga, vi algumas vagas em mesas cheias de homens vestidos de terno falando sobre trabalho – péssima idéia. Do outro lado tinha uma vaga com um grupo de mulheres de meia idade falando sobre seus filhos que agora tem pelos no saco – isso me causaria enjôo. Por fim, encontrei a cadeira na qual eu iria me aventurar.

Na mesa tinha apenas uma mulher que não parecia medir mais do que um metro e cinqüenta e cinco de altura, mas bonita. Ela estava de camiseta e calça jeans mexendo em seu celular com a cara enfezada e havia três garrafas vazias no chão e uma cheia no isolante.

Sem perguntar, puxei a cadeira e sentei. Ela não tirou os olhos do celular, mas parecia ter me notado. Não me importei com a ignorada dissimulada que ela me demonstrou como cartão de visitas, não sai do lugar e chamei um garçom. Este que veio driblando cadeiras e pessoas em estado de alegria induzida com a sua bandeja, ele pedido e sumiu.

cao andeja. ja. ssoas em estado de " r. com sobre seus filhos que agora tem pelos no saco - isso rabiscou uma anotação do meu pedido e sumiu. Pouco depois reapareceu com uma garrafa e um copo.

Tomei meu primeiro copo em um gole, apreciei o sabor gelado e enchi meu copo novamente. Olhei para a mulher agora que me encarava como se quisesse me fuzilar com os olhos, achei que ela precisava de uma cerveja gelada e enchi o seu copo.

- Será que você não percebe que me incomoda? – ela disse.

Fiquei quieto, tomei um gole da minha cerveja e fingi não ter ouvido nada.

- Estou esperando uma pessoa – ela continuou – então tome a sua cerveja e caia fora.

- Aposto que tomo uma grade e esse cara que você ta esperando não chega – respondi.

- Se você não cair fora logo rei, eu vou chamar um garçom – ela me ameaçou, visivelmente nervosa.

Nessa hora chegou um cara do lado de minha cadeira, um sujeito alto, loiro e bem vestido. Um daqueles típicos universitários filinhos de papai que só querem um diploma para dizerem aos pais que tem competência de herdarem suas fortunas, mas na verdade não sabem nem articular uma frase.

- Que porra que cê ta fazendo aqui mermão!? – disse ele já com o clima alterado.

- Só tou bebendo uma cerveja bicho. Pegue uma cadeira e um copo, cara.

- Vai se foder! – berrou ele metendo a mão em meu macacão sujo.

Os olhos da mulher começaram a mostrar ar de preocupação e todo o local movia se manifestava com murmurinhos e olhadas indiscretas para o foco de confusão.

- Se cê não levantar logo, eu vou te quebrar!

- Para Felipe! – disse ela – vamos sair daqui e deixar ele ai.

- Porra nenhuma! Esse merda sujo vai ter o que merece.

O sujeito me empurrou, eu cai no chão virando a mesa e me arranhando todo, as pessoas começavam a assistir e a berrar coisas incompreensíveis. Eu tinha batido a cabeça e aquilo doía pra cacete. Quando meus olhos desanuviaram, vi que a garrafa que eu havia comprado estava no chão, e mais da metade estava se derramando. Com as mãos tremulas eu peguei a garrafa e tomei o que restava.

- Esse cara patético é só um cachaceiro de merda! – disse Felipe.

- Deixe ele em paz – disse a mulher – você não precisava ter batido nele.

- Cale a boca porra!

Ele chutou minhas costelas, senti uma dor insuportável e cuspi sangue com cerveja. Vi que tinham um monte de cabeça com olhos enormes me espreitando e um murmúrio alvoroçado que perturbava minha cabeça. Eu não conseguia mais identificar nada o que era dito, apenas percebia sombras se mexendo à minha volta e então apaguei.

domingo, 6 de julho de 2008

Alguem para culpar

Reverendo Jonas entoava orações desesperadas em sua mente. Olhava para o teto daquele lugar medonho em busca da salvação, mas toda vez que respirava fundo, sentia o cheiro acre e úmido de podridão, vomito e lixo. Em sua frente, aquele que chamava a si mesmo de Lúcifer, sentado de forma esparramada na cadeira com as pernas abertas e com os olhos vivos fixados em seus olhos como uma naja sedutora.

- Quer um uísque Sr. Jonas? – perguntou Lúcifer interrompendo bruscamente as orações do reverendo.

Interrompido abruptamente e retirado de suas profundas orações Jonas voltou à realidade. O Anjo Caído ainda estava lá, e agora lhe oferecia uma bebida... Não deixes cair em tentação! Deve ser uma provação de Deus, só pode! Gritava sua alma.

- Eu... Não... Bebo – balbuciou ele em resposta.

- Eu já previa isso, mas vou pedir mesmo assim, garçonete, traga duas doses caprichadas!

O olhar tranqüilo do demônio encarando seus olhos deixava Jonas inquieto, se era para ter sua fé testada, desejaria que fosse rápido, pois assim poderia ir ao encontro do Criador e teria passado em seu teste.

A garçonete trouxe duas doses de uísque e saiu rebolando com sua saia curta e expressão doentia. Lúcifer penetra seus olhos nos de Jonas e vê a sua alma.

- Isto aqui não é uma provação, e nem foi Deus que quis que você estivesse aqui agora! – disse ele rispidamente.

Jonas ficou assustado, sentiu medo e apreensão, seus pensamentos viraram bombardeamentos vorazes e desconexos.

- Você está aqui porque você quer – disse Lúcifer retirando um cigarro do bolso e acendendo-o.

- É mentira! Você é o Pai da Mentira! Deus me ajude! – berrou Jonas.

- Mentira? – ele gargalhou estridentemente e deu uma tragada em seu cigarro, curtiu um pouco da aflição do pobre mortal a sua frente entre a fumaça que expelia pelo nariz e então voltou a falar mansamente – você sabe porque atravessou aquela porta esta noite?

Não houve resposta.

- Quem foi que obrigou você a sentar aqui?

O reverendo pensou em uma resposta, mas não passou de um resmungo quase inaudível.

- Admito que eu quem pedi o uísque para você, mas não te forcei a beber.

- Então porque estou aqui? – perguntou sentindo-se exausto.

Lúcifer tragou o cigarro lentamente e expeliu a fumaça e soltou um sorriso malicioso que passou despercebido pelo reverendo.

- Foi você.

- MENTIRA! – berrou ele escandalosamente, causando um rápido murmúrio no bar – porque eu iria querer entrar AQUI!?

Alguém começou a tocar habilidosamente um saxofone, uma melodia melancólica e ácida.

- Se acalme rapaz, entenda uma coisa. Nem Deus, nem eu, temos nada haver com isso aqui. Você está aqui porque quer e eu estou aqui porque você precisa de alguém para culpar.

Atordoado, Jonas sentiu-se abandonado, lagrimas rolaram pelo seu rosto e então sentiu-se sujo, pecador, assim como todos aqueles que estavam lá, um ausente de luz espiritual. Respirou fundo, olhou fundo nos olhos de Lúcifer e tomou um gole de seu uísque, o calor invadiu seu peito e então sentiu-se livre.

- Me da um cigarro?

domingo, 15 de junho de 2008

Voltando das cinzas!

Depois de mais algum tempo sem postar, volto com um conto, ou uma historia, tudo depende do meu humor, talvez tenha continuacao, talvez nao. Mas ai está:


Do outro lado do abismo

Para todos aqueles os quais a vida não sorri, a noite acontece no bairro mais periférico da cidade e no bar mais sujo do bairro. O Clube do Uísque é uma dessas típicas espeluncas de beira de esquina onde todos os cânceres sociais se reúnem. Marginais de todos os tipos, bêbados, desempregados, prostitutas e cafetões são a freguesia local, infelizes são os pobres coitados desavisados que acaba indo parar lá.

Do outro lado da rua ficava uma dessas igrejinhas cristãs protestantes de nome esquisito que brotou ali há alguns anos ninguém sabe como. O fato é que a maioria daqueles do bairro que não estava no bar, estava rezando junto com o fervoroso reverendo que bradava seus salmos, alto o suficiente para se ouvir de dentro do barulhento Clube do Uísque. A missa daquela noite se estendia até tarde e os primeiros bêbados começavam a protestar.

A missa finalmente terminou, os crentes iam saindo um a um fuxicando futilidades ou abençoando seus irmãos em seus perigosos caminhos de volta para a segurança de suas casas debaixo de uma forte chuva que viera com uma grossa nuvem. Rapidamente os crentes evacuaram sobrando alguns poucos, até que sobrara apenas o reverendo que trancava a igrejinha.

O reverendo Jonas era pastor há pouco tempo e se tornou por vocação, o pai era pastor e o avo era pastor, teve mestres a vida toda para seguir o caminho da luz. Mas naquele dia, após terminar de trancar a igreja e esconder minuciosamente a chave no lugar de praxe, notou que havia esquecido seu guarda-chuva. Reverendo Jonas esforçou-se para não praguejar e sentiu-se satisfeito por conseguir – a paciência é uma das virtudes divinas.

Protegendo-se da chuva debaixo do precário telhado da igreja, o reverendo percebeu que acabaria encharcado antes que a chuva passasse, não queria voltar para o lado de dentro, era lhe desagradável ficar só. Do outro lado da rua estava o Clube do Uísque, podia ser uma boa chance de avançar com sua missão na terra e arrebanhar mais alguns fieis. Tirou sua bíblia do bolso e sentindo-se agora mais preparado, marchou firmemente para o outro lado da rua.

O reverendo passou pela pequena porta de vai-e-vem e ficou pasmado com o mundo ali dentro. Totalmente indiferentes a sua presença, prostitutas se esfregavam em clientes, bêbados vomitavam nas mesas, brigões se empurravam e jogos de azar movimentavam dinheiros e disputas a um satânico som de rock. Baratas subiam as sujas paredes de tintas descascadas e ratos furtavam migalhas em mesas onde bêbadas roncavam sonoramente.

Uma prostituta com o corpo envelhecido dez anos a mais que a sua idade real e com a maquiagem bizarramente malfeita encostou-se no reverendo, esfregando seus seios suados e fétidos no pobre homem, que permanecia paralisado no mesmo lugar.

- E ai queridinho – sussurrou a prostituta no ouvido do reverendo – não está afim de uma... – ela fez um gesto com a mão e a boca.

O reverendo se arrepiou, sentiu-se sujo por pensar naquilo, puniu a si mesmo perante Deus em seus pensamentos e então finalmente reagiu.

- Minha... – parou e pensou meticulosamente na palavra que iria usar – senhorita, eu...

- Vamos, pra você faço mais barato bonitão! – insistiu ela.

O reverendo começava a suar, aquela mulher tinha que ser salva, todos ali tinham que ser salvo, mas primeiro tinha que livrar-se da tentação!

- Ele não quer mulher – disse então um sujeito alto, cabeludo de rosto queimado pelo sol que utilizava uma jaqueta de couro e uma calça jeans suja de graxa – se manda daqui!

Resmungando, a prostituta se afastou e a indiferença no local permanecia. O som rolava e o show bizarro local continuava. O reverendo aliviado abençoava a Deus a graça de alguém ter vindo salvar lhe, só podia ser o dedo do Todo Poderoso!

- Sente-se em minha mesa e estará seguro – disse o estranho de jaqueta – quer um uísque?

- Aceito o primeiro convite – apressou-se a dizer ele – mas não bebo.

- Como queira.

Os dois sentaram-se em uma mesa úmida e suja num canto isolado e menos barulhento.

- O que faz o pastor aqui neste local tão... Sórdido? – perguntou o estranho.

- Esqueci meu guarda-chuva – respondeu ele, avaliando tenso a sua situação – mas mudando de assunto, como se chama irmão, para que eu possa agradecer-lhe mais adequadamente?

- Meu nome é Lúcifer – ele estendeu a mão.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Abalos sísmico na Terra Segura

Não me lembro mais da ultima vez que me senti assim. Não me lembro se quer de um dia ter me sentido assim, tocado em algum lugar do fundo do meu eu, perturbando a minha paz e o prazer de ter a paz perturbada. Como é estranho sentir prazer da angustia, ah, como é! Logo eu que tenho meu pé tão deliciosamente preso ao chão, isolado para alem da permissão de que atinjam o meu eu em paredes invisíveis e sentir de modo tão diferente e conturbado uma dor deliciosa e simples com o pavor da culpa em meu âmago resultado de um momento diferente e inesperado do meu cotidiano.

O Baile de Mascaras:

Dançar como é dançar disfarçado?

Dança comigo, quero aprender

Escondo meu rosto por trás da mascara

Festejo o mundo rodopiando no chão

Seguro dos meus e dos seus passos

Eu bailo este baile de mascaras

Até ser indecorosamente desmascarado

Não, não veja meu rosto!

Eu não estava preparado

Para o brilho, suspiro! Disfarçar

Desmascarado, me mascarei e voltei a bailar

Com a certeza de que voltei

Voltei a me apaixonar

Antes do Outono chegar.