Sujo, Podre e Imbecil - Sexo, vinho e... Grama. PT1
Já fazia dois meses que eu estava grudado na casa de Amélia, escondido dentro do quarto assistindo TV durante o dia inteiro coçando o saco. Ela havia dado um pé na bunda do namorado e isso tinha lhe rendido um olho roxo que lhe marcou por algumas semanas, quis ir dar um soco no cara, mas ela chorou pedindo para que não fosse – o pai dele era policial federal.
Falando em pais, Amélia morava só, mas o pai e o avo a visitavam vez ou outra. Ela havia contado sobre o fim do relacionamento que houve repentinamente, o avo ficara satisfeito, o pai nem tanto, pois o cara tinha dinheiro, porém pelo menos a integridade física de sua filha não corria mais risco. Sobre mim, ela apenas comentou com o avo, que ela dizia ser um cara legal, enquanto o pai acharia que eu era um pé rapado – o que não estaria errado. Mas por algum tempo eu fiquei escondido no quarto quando eles estavam lá, até que um dia o avo fez questão de me conhecer e ela nunca negou nada ao velho.
Numa tarde em que o velho havia marcado de aparecer sem o seu filho – pai de Amélia. Sentamos-nos em cadeiras no jardim, eu estava de sandálias e calção de banho, minha barba estava mal feita e meu cabelos totalmente embaraçados. Nada que tivesse incomodado o velho. Ele tinha uma enorme careca na cabeça e tudo o que lhe faltava em cima, ele tinha embaixo, o seu queixo era repleto de pelo, creio que sua barba alcançava a barriga, seu conjunto exótico ainda exibia um óculos de sol estilo aviador antigo e uma bata indiana.
O velho era um americano hippie que fugiu de seu país para que o seu pai conservador maluco quisesse que ele fosse para a guerra do Vietnã ser um herói. Conseguiu arrumar uma grana e fugiu para o Brasil, nunca mais viu a família, se casou com uma brasileira e fez a vida ensinando ioga num centro indiano e fazendo acupuntura. Contei a ele sobre mim.
- Você parece ser uma cara legal! – disse ele, com um sotaque ainda perceptível – lembrar muito com eu mesmo. Não gostava de moleque imbecil, lembra minha filho, um completa idiota.
Eu ri. Amélia não gostava como o avo tratava o seu pai, mas no fundo ela sabia que ele tinha razão, por isso nunca repreendia o velho sobre isso. Acabei achando ele um cara legal. Inclusive mostrou enorme interesse pela minha formação como psicólogo e disse que conhecia uma instituição que talvez me contratasse. Apesar de trabalho não ser especificamente o que eu queria, não era algo que poderia negar.
O velho tinha ido embora, e eu e Amélia continuávamos sentados no mesmo lugar, abrimos um vinho chileno e tomamos enquanto a noite caía. Ascendi um cigarro e fumamos juntos por algum tempo curtindo as formas variadas que a fumaça fazia dançando no escuro.
- Não queria que você tivesse que trabalhar – ela disse.
- Mas não tem como recusar, eu acho que o velho simpatizou comigo e ta fazendo isso também por você.
- Mas você é meu escravo – disse enquanto entrelaçava a minha mão nas suas – sou eu que te dou comida e roupa lavada, seu trabalho é me servir também.
Rimos juntos por longos instantes, ascendemos outro cigarro e desviamos nossos olhares para o céu sem estrelas e sem lua, como era estranha a sensação diante da imensidão, como me senti pequeno e só. Tomei um gole de vinho. Mais alguns instantes em devaneio se passaram, até que ela me trouxesse de volta ao plano concreto.
- Você bem que poderia ser do meu tamanho, né?
- Eu? Imagina só, eu acho que me vestiria de verde e ganharia a vida como duende de jardim!
- Seu porra! Ta me zoando é? Só porque sou pequena... Mas é porque não te alcanço!
- Claro que alcança.
- Alcanço nada.
- Fique de pé ai.
Nos levantamos das cadeiras e ela mal alcançava o meu peito – pois enquanto ela era pequena, eu era bastante alto, quase um metro e noventa. Ficamos um de frente para o outro, ela me olhava no rosto erguendo sua cabeça toda para cima. Quem nos olha de longe provavelmente acharia que sou um pedófilo maluco.
- Viu só! Não alcanço!
- Mentira, alcança sim. Olha só, não precisa nem se abaixar, ta na altura certíssima.
- Você ta de sacanagem com minha cara?
- De uma forma um pouco diferente do que a que você quis dizer.
- Como assim?
Peguei a cabeça dela e empurrei levemente em direção ao meu calção... Naquela noite transamos no jardim e acordamos de ressaca e com coceira por causa do capim.
Amélia ainda dormia, estava nua ali esparramada no chão. Fui pra cozinha fazer um rango e café, pra mim e pra ela, coloquei tudo numa bandeja e levei para o jardim. Depois de algum tempo juntos, descobri que a única coisa que ela não sabia fazer era comida, descobri isso da pior forma - depois de quase morrer intoxicado com as gororobas intragáveis que tive de comer, eu assumi a panela e o fogão.
- Acorda – sacudi ela com a mão livre.
Ela resmungou e abriu os olhos cansados. Sentiu o cheiro de café da manha e dos ovos fritos e ficou com a cara pálida e vomitou no chão.
- Coma algo logo, ou então vai se atrasar pra universidade – eu disse, enquanto ia comendo a minha parte.
- Não quero comer nada!
- Depois não diga que não avisei.
- Vou tomar banho, só deixa um café pra mim.
- Como quiser.
Ela sumiu dali. Fui terminar meu café na cozinha, deixei o dela sobre a mesa. De repente o telefone da sala tocou - ainda sujo de grama e nu eu fui atender, a cena era ridícula e eu continuava me coçando.
- Alo?
- Marcos? – respondeu a voz do avo de Amélia do outro lado da linha – como está meu rapaz?
- Bem, e o senhor? – meu saco coçava um absurdo e minhas unhas arranhavam ali freneticamente.
- Arrumei uma boa trabalho para você minha rapaz!
- Ótimo – deveria arrumar um curso de português também, pensei nada empolgado com a perspectiva de trabalhar – que trabalho meu velho?
- Numa instituição que contribuo filha. Vou te buscar em trinta minutas!
- Beleza.
- Até lá.
Ele desligou o telefone. Amélia saiu do chuveiro enrolada na toalha, pegou o café sobre a mesa e tomou em um gole só.
- Ta morno esse café.
- Você esperava o que?
- Porque ta vermelho ai embaixo?
- Como acha que mantive seu café aquecido?
- Tomara que esteja quente ainda mais tarde viu meu escravinho? – ela riu, eu não achei graça – quem ligou?
- Seu avo.
- É? O que disse?
- Tem um emprego pra mim.
- Sua cara não ta muito boa.
- Impressão sua. Ele chega aqui em meia hora.
- Então se apresse, eu tou indo rei, não se canse, que vou te utilizar hoje a noite, viu meu mucamo?
- Ok sinhá!
Ela saiu pela porta, pegou o carro na garagem e se mandou pela estrada, fui tomar um banho e pegar uma camisa bacana que Amélia tinha me dado para sairmos a noite, coloquei uma calça jeans e um sapato social surrado que apertava meus dedos a anos. Uma hora e meia depois o velho hippie pintou por lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário