segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vinho, noite, só falta sexo..

O sujo podre e imbecil, Marcos, continua em cena em mais alguns paragrafos meus.


Sujo, Podre e Imbecil - Sexo, vinho e... Grama. PT1


Já fazia dois meses que eu estava grudado na casa de Amélia, escondido dentro do quarto assistindo TV durante o dia inteiro coçando o saco. Ela havia dado um pé na bunda do namorado e isso tinha lhe rendido um olho roxo que lhe marcou por algumas semanas, quis ir dar um soco no cara, mas ela chorou pedindo para que não fosse – o pai dele era policial federal.

Falando em pais, Amélia morava só, mas o pai e o avo a visitavam vez ou outra. Ela havia contado sobre o fim do relacionamento que houve repentinamente, o avo ficara satisfeito, o pai nem tanto, pois o cara tinha dinheiro, porém pelo menos a integridade física de sua filha não corria mais risco. Sobre mim, ela apenas comentou com o avo, que ela dizia ser um cara legal, enquanto o pai acharia que eu era um pé rapado – o que não estaria errado. Mas por algum tempo eu fiquei escondido no quarto quando eles estavam lá, até que um dia o avo fez questão de me conhecer e ela nunca negou nada ao velho.

Numa tarde em que o velho havia marcado de aparecer sem o seu filho – pai de Amélia. Sentamos-nos em cadeiras no jardim, eu estava de sandálias e calção de banho, minha barba estava mal feita e meu cabelos totalmente embaraçados. Nada que tivesse incomodado o velho. Ele tinha uma enorme careca na cabeça e tudo o que lhe faltava em cima, ele tinha embaixo, o seu queixo era repleto de pelo, creio que sua barba alcançava a barriga, seu conjunto exótico ainda exibia um óculos de sol estilo aviador antigo e uma bata indiana.

O velho era um americano hippie que fugiu de seu país para que o seu pai conservador maluco quisesse que ele fosse para a guerra do Vietnã ser um herói. Conseguiu arrumar uma grana e fugiu para o Brasil, nunca mais viu a família, se casou com uma brasileira e fez a vida ensinando ioga num centro indiano e fazendo acupuntura. Contei a ele sobre mim.

- Você parece ser uma cara legal! – disse ele, com um sotaque ainda perceptível – lembrar muito com eu mesmo. Não gostava de moleque imbecil, lembra minha filho, um completa idiota.

Eu ri. Amélia não gostava como o avo tratava o seu pai, mas no fundo ela sabia que ele tinha razão, por isso nunca repreendia o velho sobre isso. Acabei achando ele um cara legal. Inclusive mostrou enorme interesse pela minha formação como psicólogo e disse que conhecia uma instituição que talvez me contratasse. Apesar de trabalho não ser especificamente o que eu queria, não era algo que poderia negar.

O velho tinha ido embora, e eu e Amélia continuávamos sentados no mesmo lugar, abrimos um vinho chileno e tomamos enquanto a noite caía. Ascendi um cigarro e fumamos juntos por algum tempo curtindo as formas variadas que a fumaça fazia dançando no escuro.

- Não queria que você tivesse que trabalhar – ela disse.

- Mas não tem como recusar, eu acho que o velho simpatizou comigo e ta fazendo isso também por você.

- Mas você é meu escravo – disse enquanto entrelaçava a minha mão nas suas – sou eu que te dou comida e roupa lavada, seu trabalho é me servir também.

Rimos juntos por longos instantes, ascendemos outro cigarro e desviamos nossos olhares para o céu sem estrelas e sem lua, como era estranha a sensação diante da imensidão, como me senti pequeno e só. Tomei um gole de vinho. Mais alguns instantes em devaneio se passaram, até que ela me trouxesse de volta ao plano concreto.

- Você bem que poderia ser do meu tamanho, né?

- Eu? Imagina só, eu acho que me vestiria de verde e ganharia a vida como duende de jardim!

- Seu porra! Ta me zoando é? Só porque sou pequena... Mas é porque não te alcanço!

- Claro que alcança.

- Alcanço nada.

- Fique de pé ai.

Nos levantamos das cadeiras e ela mal alcançava o meu peito – pois enquanto ela era pequena, eu era bastante alto, quase um metro e noventa. Ficamos um de frente para o outro, ela me olhava no rosto erguendo sua cabeça toda para cima. Quem nos olha de longe provavelmente acharia que sou um pedófilo maluco.

- Viu só! Não alcanço!

- Mentira, alcança sim. Olha só, não precisa nem se abaixar, ta na altura certíssima.

- Você ta de sacanagem com minha cara?

- De uma forma um pouco diferente do que a que você quis dizer.

- Como assim?

Peguei a cabeça dela e empurrei levemente em direção ao meu calção... Naquela noite transamos no jardim e acordamos de ressaca e com coceira por causa do capim.

Amélia ainda dormia, estava nua ali esparramada no chão. Fui pra cozinha fazer um rango e café, pra mim e pra ela, coloquei tudo numa bandeja e levei para o jardim. Depois de algum tempo juntos, descobri que a única coisa que ela não sabia fazer era comida, descobri isso da pior forma - depois de quase morrer intoxicado com as gororobas intragáveis que tive de comer, eu assumi a panela e o fogão.

- Acorda – sacudi ela com a mão livre.

Ela resmungou e abriu os olhos cansados. Sentiu o cheiro de café da manha e dos ovos fritos e ficou com a cara pálida e vomitou no chão.

- Coma algo logo, ou então vai se atrasar pra universidade – eu disse, enquanto ia comendo a minha parte.

- Não quero comer nada!

- Depois não diga que não avisei.

- Vou tomar banho, só deixa um café pra mim.

- Como quiser.

Ela sumiu dali. Fui terminar meu café na cozinha, deixei o dela sobre a mesa. De repente o telefone da sala tocou - ainda sujo de grama e nu eu fui atender, a cena era ridícula e eu continuava me coçando.

- Alo?

- Marcos? – respondeu a voz do avo de Amélia do outro lado da linha – como está meu rapaz?

- Bem, e o senhor? – meu saco coçava um absurdo e minhas unhas arranhavam ali freneticamente.

- Arrumei uma boa trabalho para você minha rapaz!

- Ótimo – deveria arrumar um curso de português também, pensei nada empolgado com a perspectiva de trabalhar – que trabalho meu velho?

- Numa instituição que contribuo filha. Vou te buscar em trinta minutas!

- Beleza.

- Até lá.

Ele desligou o telefone. Amélia saiu do chuveiro enrolada na toalha, pegou o café sobre a mesa e tomou em um gole só.

- Ta morno esse café.

- Você esperava o que?

- Porque ta vermelho ai embaixo?

- Como acha que mantive seu café aquecido?

- Tomara que esteja quente ainda mais tarde viu meu escravinho? – ela riu, eu não achei graça – quem ligou?

- Seu avo.

- É? O que disse?

- Tem um emprego pra mim.

- Sua cara não ta muito boa.

- Impressão sua. Ele chega aqui em meia hora.

- Então se apresse, eu tou indo rei, não se canse, que vou te utilizar hoje a noite, viu meu mucamo?

- Ok sinhá!

Ela saiu pela porta, pegou o carro na garagem e se mandou pela estrada, fui tomar um banho e pegar uma camisa bacana que Amélia tinha me dado para sairmos a noite, coloquei uma calça jeans e um sapato social surrado que apertava meus dedos a anos. Uma hora e meia depois o velho hippie pintou por lá.

Nenhum comentário: